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CUIDADOS COM A AUDIÇÃO NOS TEMPOS DOS SMARTPHONES

Débora Lapinski, fonoaudióloga

O corpo humano é uma natureza perfeita. Por mais que haja avanço científico, e já estamos na era da inteligência artificial, não há perspectiva de sermos totalmente substituídos, enquanto criação, por máquinas e ou outras formas de vida tecnológica.

Você que está lendo este meu artigo já parou para pensar como funciona exatamente o processo da visão? Dificilmente fazemos isso porque seguimos no modo automático e apenas vamos desfrutando dessa magnífica bênção, dia após dia. Felizmente, ao menor sinal de problema, recorremos ao médico oftalmologista e, na maioria das vezes, os óculos restauram a normalidade.

Nossa complexa formação corporal é mapeada e dividida em cinco sentidos, os clássicos: visão, audição, paladar, tato e olfato e a boa saúde e a não existência de anormalidades se encarregam de orquestrar o funcionamento de todos eles, de forma sincronizada e perfeita.

O sentido que quero abordar aqui é a audição. Acabo de me formar em Fonoaudiologia e me descubro, aos 50 anos, apaixonada por essa minha nova profissão, me sentindo plena, preparada e com muita vontade de trabalhar pela saúde auditiva das pessoas do nosso Mato Grosso.  

O fato de ouvirmos bem é um privilégio que faz toda diferença em nossas vidas. O mundo é sonoro, mas é também silencioso. E entre estes dois polos existem infinitos sons que caracterizam o prazer do nosso bem estar e viabiliza  o convívio em sociedade,  pela comunicação oral e auditiva. Uma palavra proferida pelo emissor, gera uma mensagem se for assimilada pelo decodificador. Assim, a comunicação efetiva depende da arte de escutar, não apenas no sentido auditivo, mas pelo desejo de entender e compreender o que está sendo dito.

Ter as condições saudáveis de audição representa fazer parte e usufruir das comodidades sociais. Apesar das leis contra o capacitismo, ainda vivemos sob discriminações e preconceitos quanto às Pessoas com Deficiência (PcD) e nosso trabalho com a fonoaudiologia busca apoiar, diagnosticar os problemas e ajudar no tratamento com as diferentes terapias e próteses. Tudo porque ouvir bem é viver melhor.

Mas, como cuidar da nossa audição em tempos tomados pelas tecnologias dos smartphones? A comunicação digital e os fones de ouvido passaram a fazer parte da anatomia humana. O problema não é a tecnologia, tampouco o fone de ouvido, mas sim o uso inadequado deles.  Com isso os danos à audição vêm atingindo a população cada vez mais cedo. Se no passado recente, a faixa etária mais acometida era a dos idosos, hoje, vemos cada vez mais jovens com problemas na audição devido aos excessos de exposição a volumes altos e ruídos intensos.

Portanto, algumas mudanças comportamentais farão toda a diferença para preservar sua saúde auditiva:

  • Ao usar fones de ouvido, monitore o volume dos sons e o tempo de uso. Procure ouvir em nível confortável. Quase todos os aparelhos disponíveis no mercado permitem volumes superiores a 110 decibéis. Controle o volume até 85 decibéis, pois a partir disso a sua audição está em risco. Uma dica para saber em qual nível se encontra seu aparelho é verificar se as pessoas ao seu redor conseguem ouvir o que está sendo veiculado no seu fone. Se sim, é porque você precisa diminuir. E você, que está usando o fone, precisa ouvir o que está acontecendo ao seu redor. Se não ouvir, está acima do limite.
  • Outra dica:  se você tira o fone e tem a sensação de que os sons estão mais “abafados”, ou percebe um zumbido, também é sinal de que o volume está exagerado.  Mesmo que a sensação passe, você pode ter tido danos, que vão se somando ao longo dos anos. Alguns smartphones avisam quando o volume está excessivo. Não ignore o alerta!
  • Faça pausas! Se usou o fone por uma hora, deixe seu ouvido descansar também por uma hora.
  • Há vários modelos disponíveis no mercado, os mais recomendados para preservar a audição são os circumaurais (cobrem toda a orelha) e os intra-auriculares com cancelamento de ruído ativo (capazes de anular eletronicamente ruídos externos).
  • Fones de ouvido são de uso pessoal, não os compartilhe e lembre-se de higienizá-los frequentemente.
  • Limpar o ouvido com cotonete é hábito comum, mas totalmente desaconselhável, pois as hastes flexíveis empurram a cera para dentro do ouvido, dando a falsa sensação de limpeza, sem contar que podem perfurar o canal auditivo e o tímpano.
  • Se você usa fones de ouvido durante boa parte do seu dia, inclua na sua agenda fazer audiometria uma vez por ano para avaliar a qualidade da sua audição.
  • Alimente-se de forma saudável, evite o excesso de cafeína e alimentos muito doces ou muito salgados, além do álcool e do tabaco.
  • Previna e controle doenças como diabetes, hipertensão e arteriosclerose pois elas podem prejudicar a saúde dos ouvidos.
  • Realize consultas médicas periódicas com um otorrinolaringologista. A prevenção continua sendo a melhor opção para a saúde auditiva.